Aproveitando a programação super animada da TV no final do
ano, hoje especificamente o não bom e velho especial do Roberto Carlos, Tio
Salsicha tira a pena da gaveta pra falar um pouco sobre o universo das motos.
Comecemos dizendo que é um assunto que temos embasamento pra
falar já que lá se vão 16 anos, 05 máquinas e mais de 80.000 km rodados em duas
rodas.
O primeiro ensinamento que recebi e que me vale até hoje é: “de
moto o prejuízo é sempre seu”, se você atropelar um cachorro, cai, uma pessoa,
cai, se passar por cima de uma bola cai, se bater em um carro ou se este bater
em você, cai, então vale ficar sempre atento e tentar antecipar o que pode
acontecer, manter distância segura, sempre pensar em onde você pode jogar em
caso de risco e corredor só se o trânsito parar, mesmo assim em baixa
velocidade. O segundo é, “tenha sempre medo”, muito medo, moto é um veículo
perigoso e quando você acha que já está pilotando muito é que acaba no chão, um
duro aprendizado. Uma vez um skate atravessou a rua sozinho na minha frente por
pouco não o acertei e uma vez caiu uma peça de um caminhão e acertou minha
perna na estrada, prejuízo sempre meu.
Ande sempre equipado, capacete, jaqueta e calça grossas,
luvas e uma boa bota, pois a maior parte das lesões em colisão com carro são na
canela, que fica bem na altura do parachoque dos carros. Sempre ando
paramentado, mas na única vez que caí em todos esses anos, por estar indo à um
lugar perto, durante o dia, calor, estava de camiseta, o tombo me rendeu uma
pele nova no braço esquerdo, hoje, mesmo que for andar dentro da garagem,
equipamento completo.
Finalizando a parte antes da curtição, manutenção preventiva
em uma moto é primordial e evita que um passeio acabe em uma dor de cabeça,
mesmo porque, voltando a lembrar, é um veículo perigoso, nada te separa do
chão, um freio que falha, uma corrente que estoura, uma falhada em uma
ultrapassagem, podem fazer a diferença entre você comemorar o próximo
aniversário ou não, assim sendo, manutenção preventiva sempre, além da periódica
visita ao mecânico, uma checagem rápida antes de cada passeio, gasolina boa e
pneus calibrados garantem a tranquilidade.
Ainda cabe um parênteses aqui de duas regrinhas muito
pessoais, a primeira é que moto é monoplace, garupa só pra quebrar um galho de
alguém em trajetos curtos, com garupa a moto muda muito de comportamento e como
é perigoso, se a outra pessoa gostar tanto assim de moto, compre uma e venha
andar comigo, na minha garupa é responsabilidade demais. E a segunda, é que
moto deve ser “in a box” como muito bem disse o mesmo cara que me ensinou o
lance do prejuízo ser sempre do motociclista, “in a box” significa zero
kilometro, é muito difícil comprar uma moto usada e se dar bem, poucas pessoas
sabem como andar e manter uma moto de modo a não vender problema pro próximo
dono, eu quebrei essa regra duas vezes e me dei mal nas duas, peguei motos de
quem só pegava e andava, com manutenção pra fazer, quebrou muita coisa na minha
mão, resumindo, só aborrecimento, não indico, se puder ser zerada, você ao
menos sabe o que fez e como deu manutenção na sua menina.
Tamanho e estilo são coisas muito pessoais, tive três 250cc
que são o que há de mais funcional no
mundo das motos hoje, te levam até 140/h, consomem muito pouco, o que em tempos de combustível
a 3,50 o litro é um baita diferencial, têm
injeção eletrônica, freios a disco, o melhor custo benefício possível, além de ter
um tamanho bem propicio para furar o transito da metrópole, porém na estrada
fazem aquele barulho de motorzinho de dentista, que acaba com a alegria de
qualquer um. Para um uso misto cidade e estrada com garupa eventual, uma 500 é a
mais indicada, 600 é a ideal e tudo que
passa de 800 é só para ter tamanho e consumir pois não tem nenhuma vantagem, já
que não temos no Brasil estradas para usufruir os diferenciais que uma
grandalhona pode proporcionar. Em questão de estilos não temos muitas
variações, são 4 a grosso modo: Street, Trail, Speed e Custom. As Street são
aquelas que você anda com o corpo bem ereto, os pés ligeiramente para trás,
perto do chão para dar mais agilidade e guidão estreito para o transito das
metrópoles, começam na famosa Honda CG 125, passam pelas Honda CBX 200 Strada, CBX 250 Twister, Yamaha Fazer 250, Honda CB 400 e têm opções de até 600cc; as Trail que são aquelas com suspensão cross propícias para um fora
de estrada, mas a exemplo dos carros SUV, a grande maioria passa a vida toda
sem experimentar o barro, com a variação Big Trail que além do motor superior a
650, vêm calçadas com pneus lisos (slick), essa categoria detém a clássica XL 350, a NX 350 Sahara, a NX 400 Falcon e até a Teneré 750; as Speed, que você pilota debruçado
sobre o tanque, pés para trás"vestindo a moto" e mesmo as pequenas dessa categoria tem motores nervosinhos,
trabalhando em alto giro para dar vontade de acelerar, são as mais perigosas, começam na popular Kawasaki Ninja 200, passam pelas clássicas Yamaha RD 350, Honda CBR 450, Hornet 600, CBR 600 RR e tem opções de até 1200cc e;
finalmente as minhas favoritas Custom, onde estão classificadas a Honda Shadow, Yamahas Virago e Drag Star, Kawazaki Vulcan e Suzuki Boulevard, essas merecem um parágrafo à parte pois
é onde mais tenho história.
Minha primeira moto foi uma Suzuki Intruder 250, uma pequena
custom que a Suzuki importou de 97 a 2002 e fez muito sucesso por aqui. Não
tinha muito motor, mas compensava no estilo, com um pneu bolachão na traseira o
mesmo usado na clássica honda CB 400, que fazia ela parecer maior do que era na
verdade, indicador de marchas no painel, o que reclamo até hoje e quase nenhuma
moto nacional tem, e pra completar, guidão estreito, o que me dava agilidade no
trânsito razão principal de eu ter entrado no universo das duas rodas. Rodei mais
de 20.000 km com essa motinho, a maioria na cidade e quase não tive problema mecânico,
ela também me proporcionou o primeiro e até hoje único tombo, nada sério graças
a Deus. Depois dessa, tive uma Honda Twister 250, street que leva o título da
maior viagem que já fiz de moto até hoje, São Paulo à 3 Lagoas – MS, 1500km somando
ida e volta, muito confiável e com o diferencial de um cambio 6 marchas. Depois
dessa cheguei em um sonho antigo, antigo mesmo, porque quando comprei já tinha
10 anos de uso, que eu infelizmente descobri depois que foram bem judiados, uma
Honda Shadow 600, Custom bicarburada e, quando você tem acesso à uma dessas, meu amigo, a vida passa a
ser dividida entre antes e depois da danada. As custom tem a estrada como seu
habitat natural, são pesadonas, mais de 200k, mesmo que sem grandes motores, o
que confere muita estabilidade, o assento fica próximo do chão e os pés
reclinados para frente, o guidão posicionado para trás para o máximo de
conforto em grandes distâncias, como eu costumo dizer: um sofá de andar. Hoje
essas máquinas só estão disponíveis a partir de 800cc, com transmissão a cardã
ou correia dentada e injeção eletrônica, o que as tornou muito mais confiáveis,
é o modelo que os leigos vão invariavelmente te perguntar se é uma Harley e se
você for como eu, que não simpatiza em nada com a Harley, vai querer morrer de
catapora.
Na época da Shadow,
elas ainda não tinham toda essa modernidade, mas tinham como diferencial o
matador carburador de dois estágios, eles funcionavam no estágio 1 até 110/h,
aí você tinha a sensação que a moto estava no limite, barulhenta, trepidando,
mas eis que a 110 abria o segundo estágio e era possível perceber um salto, sensação
semelhante a se abrir um nitro, e então a moto ia para 140 km/h fácil, o
barulho acabava e ficava difícil de trazer a máquina para o limite da estrada,
era então que ela mostrava todo seu motor, e é preciso registrar que a
velocidade de cruzeiro dessas máquinas fica por volta de 150/h, hoje seria um
festival de multas, mas há 10 anos o radar fotográfico ainda não havia sido
inventado, tempos muito mais divertidos e muito menos cerceados que os
vigentes. Ficou com vontade? Essas maquinas foram fabricadas até 2010 e ainda é
possível encontrar muitas em ótimo estado de conservação por aí (traindo o
princípio In a box), já tive uma Honda com transmissão a corrente e uma Yamaha com transmissão a cardã
desse estilo, e, para quem curte as duas rodas, é uma moto que você não pode
morrer antes de pilotar.
Para encerrar o post que já vai longe e o especial Roberto
Carlos até já acabou, vou usar uma frase para pensar envolvendo uma speed
clássica:
A Yamaha RD 350 ficou conhecida como viúva negra não porque
tinha muito motor e pouco peso, o problema dela é que não tinha freio. Qualquer
idiota acelera uma moto, mas só um piloto consegue parar a tempo.