sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Meu amigo das ruas

Salsicha ontem teve uma lição da vida que gostaria de dividir com as pessoas especiais que frequentam esse cantinho virtual.
Precisei levar o notebook para a aula e quando estava voltando, cheguei no ponto de ônibus que demorou pra caramba, tinha um morador de rua sentado no ponto, negro, os olhos vermelhos, uma mala ao lado, não dava para identificar a princípio se estava alcoolizado ou drogado (como se o álcool não fosse droga) e confesso que fiquei com medo e mantive uma distância respeitável. Ele me olhou e pediu uma ajuda, eu disse: -Não tenho. - estava bronqueado com a vida por algumas coisas que aconteceram nos últimos dias e não vem ao caso agora -  mas aí bati a mão no bolso e lembrei que o troco do lanche estava lá, apenas algumas moedas, eu ainda meio na defesa, mas ele virou pra mim e disse: - Sabe o que é, vou ser sincero, eu tô a fim de tomar um álcool. -  eu ri, me desarmei, dei as moedas pra ele e sentando ao lado comecei a puxar papo. Ele me contou que anda por São Paulo todo, com as notícias da crise hídrica foi até a cantareira para conferir, me falou que às vezes visita a mãe, onde fica, como faz pra resolver coisas básicas da vida nas ruas, como tomar banho, me contou até que votou na última eleição e eu dando corda e ele falando.  Depois de alguns minutos, abriu a mala, pegou uma bermuda e queria de qualquer jeito que eu a aceitasse como presente. Foi nessa hora que Salsicha tomou uma bela bofetada da vida, chegou com medo, temendo perder alguma coisa que tinha na mochila e no fundo o pobre só queria um pouco de atenção, uma conversa, e com alguns minutos já queria dividir o quase nada que tinha. Delicadamente para não ofendê-lo recusei o presente, o ônibus chegou e segui meu caminho com cara de quem passou uma bela vergonha, não vou esquecer tão cedo esse novo amigo das ruas.