terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A história de Mochinho






De vez em quando a natureza nos dá alguma missão para cumprir. No final do ano passado ano ela nos enviou Mochinho. Minha mãe estava regando a horta quando ele veio tentar beber água na torneira, ela percebeu que ele era um filhote perdido e depois da água, que ele bebeu muito confiado, cavou na horta umas minhocas que também foram muito bem aceitas, foi o suficiente para o bichinho adotá-la como mãe, a mãe gorda como ela mesmo diz.
De vez em quando aparece algum filhote de passarinho caído do ninho, isso é bastante comum no interior, só que Mochinho era um filhote de Gavião e nos dois meses seguintes foi nosso hóspede.
Primeiro as minhocas, depois passamos a alimentá-lo com carne moída e duas vezes por dia era só sair no quintal e gritar: - Mochinho, Mochinho, que lá descia o malandro de alguma árvore para comer na mão e as vezes, quando acordávamos mais tarde e ele estava com fome, vinha bicar a janela como que dizendo: -Ei, tô com fome, ninguém vai vir me alimentar não??? Entretanto, como animal selvagem e predador que é, ele comia e de papo cheio ia embora sem dar confiança pra ninguém, só a minha mãe conseguiu ultrapassar esse limite e para ela, ele deitava no chão e se virava de bruços para ser coçado, talvez um reconhecimento de quem o salvara, os demais ele apenas tolerava.
Durante um bom tempo o bichinho foi a alegria da criançada e eu cheguei a pensar que ele iria ficar por lá mesmo pois até uma casa fixa ele já havia estabelecido debaixo do telhado do portão, o que deixava os passarinhos que estavam com filhotes novos nas arvores próximas todo agitados, porém um dia acordamos com Mochinho gritando muito, quando vimos, era um gavião adulto muito maior que ele rondando o telhado e o bichinho paradinho lá, indefeso. Com receio que nosso filhote virasse almoço, prendemos ele por algumas horas dentro do canil até que o gavião desaparecesse. Nos dias seguintes apareceu mais um e eles ficavam rondando em dupla, o nosso Mochinho que ficava gritando embaixo e nós apreensivos que fizessem algum mal para o malandro que conquistara toda a família. Isso se repetiu vários dias, os bichos tomando confiança e chegando cada vez mais perto, até que pousaram pertinho e pudemos ver que eram da mesma espécie de Mochinho, seus pais provavelmente. Primeiro nosso bichinho passou a acompanhá-los, aí só aparecia uma vez ou outra pra comer até que desapareceu de vez. Mais uns dias se passaram e ele apareceu de volta, pousou em cima do telhado e ficou olhando, chamamos várias vezes e ele não desceu, até que levantou vôo e depois de algumas voltas desapareceu de vez.
Foi um tempo curto, mas ele além das fotos e da lembrança, nos deixou alguns ensinamentos de cuidado com o equilíbrio delicado da natureza e também de não querer ter a posse, ser donos, aprisionar um bichinho selvagem só pelo prazer de ter. Obrigado, Mochinho.